JOANESBURGO (Reuters) - Oito celulares, 160 mil dólares e uma idéia na cabeça. Será esse o futuro do cinema?
O diretor sul-africano Aryan Kaganoff acredita que sim. E, para provar que está certo, dirigiu SMS Sugar Man, projeto classificado como o primeiro longa-metragem do mundo gravado inteiramente em celulares.
SMS Sugar Man foi gravado com oito câmeras de celulares no prazo de 11dias. O filme tem três personagens principais e seu orçamento é inferior a 1 milhão de rand (164 mil dólares). Além de exibição em salas convencionais de cinema, o filme será transmitido a celulares na forma de três episódios de 30 minutos, no prazo de um mês.
Kaganoff diz que a história de um cafetão e de duas prostitutas de alta classe percorrendo as ruas de Joanesburgo na véspera do Natal abrirá o caminho para uma nova e democrática abordagem cinematográfica, que reduzirá os custos envolvidos tanto em fazer quanto em assistir filmes.
"Acredito que o cinema, na África do Sul, não seja a mídia apropriada para representar quem somos... trata-se de um fenômeno maioritariamente branco. E aí me ocorreu que a mídia que os africanos amam acima de todas as outras são os celulares", disse ele à Reuters.
Kaganoff -- que ironicamente só adquiriu seu primeiro celular no ano passado para fazer o filme -- descartou as preocupações quanto à qualidade e disse que as imagens pareciam "fabulosas" quando ampliadas para 35 milímetros, a bitola padrão de um longa-metragem.
Embora filmes produzidos na África ou que a têm por tema estejam conquistando a atenção fora do continente mais pobre do mundo, as pequenas audiências na região -- onde a maioria das pessoas não têm dinheiro para bancar uma noite de cinema -- dificultam a situação financeira dos cineastas.
Encontrar um modelo de cinema de baixo orçamento como o da Nigéria, onde a indústria cinematográfica nacional, conhecida como "Nollywood," tem imensa popularidade, é a única maneira de garantir o futuro dos filmes na África do Sul, segundo Kaganoff.
SMS Sugar Man, que estréia em maio, custou apenas uma fração dos cerca de 6 milhões de rand tipicamente investidos em um filme local de baixo orçamento. Para comparação, os filmes de Hollywood custam entre 40 e 50 milhões de dólares, tipicamente, e muitas vezes excedem os 100 milhões de dólares.
(Por Rebecca Harrison, edição em português de Claudia Amanda)
6 de fev. de 2006
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